quinta-feira, 26 de junho de 2008

Bernardo Salgueiro Patinhas nasceu em Évora em 23 de Outubro de 1981, exerce advocacia no BNB Paribas em Lisboa, desde cedo ligado ao grupo de Forcados de Évora prepara-se agora para receber das mãos de João Pedro Rosado o cargo de Cabo dos Amadores de Évora .
Bernardo como foram os teus primeiros passos no mundo da Forcadagem?


Praticamente nasci vestido de forcado! Toda a minha vida esteve envolvida neste mundo, em criança a minha maior paixão era vestir-me de forcado, sair em cortesias com os mais velhos e até treinava! Treinava com o meu cão Black, um pastor alemão que já investia! A entrada para o grupo foi natural, comecei por acompanhar, depois por volta dos 13 anos comecei a treinar com novilhas e com 15 anos entrei a sério para o grupo, fardando-me pela primeira vez com 16 anos, na Vila de Alcáçovas, em 26 de Julho de 1997. Naquele tempo a minha geração tinha alguma dificuldade na formação porque não tínhamos ou eram em número muito reduzido as novilhadas de promoção e divulgação de grupos juvenis.

Como é nascer no seio de uma família de Forcados?


É gratificante e muito contributivo para a nossa formação. Para além de ser uma família de forcados tenho também um tio, irmão de minha mãe, ganadero de bravo. A conversa na mesa de minha casa é invariavelmente toiros, porque todo núcleo familiar está centrado à volta da tauromaquia. É também difícil para as mães, avós e irmãs porque acompanham as gerações e vão sofrendo com elas. Posteriormente torna-se muito exigente para os elementos mais novos das dinastias porque é-lhes exigido o nome que carregam.

Seres filho de uma lenda no mundo dos Forcados pode ser benéfico, mas por outro lado imprime-te muito mais responsabilidade, como avalias isso?

No seguimento da pergunta anterior, existem incontornavelmente benefícios, não há dúvida que ter um pai reconhecido neste mundo é muito prestigiante. Para além disto tenho um professor em casa o que me ajuda muito na condução do percurso enquanto forcado. Tem também esse lado da associação de nomes e exigência por ser filho de quem em questão. No início é extremamente difícil conquistar e manter uma identidade própria na festa, sempre somos vistos como “o filho de…” e temos de estar sempre bem por isso mesmo, pelo nosso nome, afinal somos o “filho de…” que era bom, este também tem de ser. Arrisco até em dizer que no inicio da vida de um forcado nestas condições, o facto de se ter um pai assim pode ser prejudicial e o êxito futuro depende muito da força de vontade do forcado em autonomizar-se e ganhar a sua identidade e depende também da intervenção do pai para que isso aconteça. Num cômputo geral é difícil mas muito positivo.



Como Forcado activo que és como estás a viver a tua carreira?

Estou na fase em que desfruto mais do que é ser forcado, são 12 anos, muitas alegrias, alguns sustos, muito respeito pelo toiro e uma afición que não para de crescer. Procuro ler, investigar tudo o que esteja ligado ao mundo do toiro. Já vivo as corridas e os compromissos com mais maturidade, não tenho aquela inconsciência do começo em que venha o que vier! É tudo indiferente, vale tudo. Respeito mais o que é ser forcado e dou muita importância a este estatuto. Sei que há pouco viveste um grande momento da tua carreira, a viagem ao México. Como foi?
Foi sem dúvida muito marcante para mim. O México sempre esteve no meu imaginário, é parte da minha vida e tenho amigos no México que são um prolongamento da minha família. Proporcionou-se uma oportunidade e estive 20 dias no México onde fui recebido primordialmente, houve situações até em que me comovia com todo aquele ambiente. Tive oportunidade de conhecer os percursos que o Grupo de Évora percorreu nas várias digressões que lá fez, conheci forcados, ganaderos, empresários, toureiros que 20 anos antes acompanharam o meu grupo .Vivi manifestações de afecto, respeito e carinho pelo forcado como não há em Portugal e deveria haver porque fomos nós que o criámos. Nesse aspecto, actualmente talvez tenhamos um pouco a aprender com os forcados mexicanos. Momento muito importante foi o contacto com o toiro mexicano, tive o prazer de pegar um toiro no México, na histórica praça Alberto Balderas em Autlán de la Grana, Jalisco. Conheci também o sabor amargo da festa, lesionei-me na corrida do XXX Aniversário dos Forcados Mexicanos, na Cidade do México. Posso dizer que foi uma experiência muito completa e para me sentir verdadeiramente forcado precisava de conhecer o México.

Ao saberes que eras tu o escolhido para sucederes ao João Pedro Rosado na tarefa de comandar um dos Grupos de Forcados com mais relevo no panorama nacional, o que sentiste, como reagiste?


Fiquei contente por ter recebido um voto de confiança dos elementos e tomei consciência das dificuldades que ia ter, precisamente pelo facto de o GFA de Évora ter estatuto de figura no panorama e pelo facto da afición não tolerar erros às figuras. O dia 27 de Outubro de 2007, data da deliberação do Grupo de Évora, foi um dia muito exigente para mim, primeiro soube da noticia que o meu pai tinha sido hospitalizado e que não comandaria o grupo de pais e filhos que se encerraria com 6 novilhos-toiros na Arena de Évora no festival da Abraço. Foi então por eles deliberado que sairia eu a cabo nessa tarde, com responsabilidade sobre 40 ou 50 forcados de várias gerações, tarefa muito difícil, mais ainda, assim que soube que se tinha decidido assim resolvi que deveria pegar nessa tarde, passasse o que passasse, mais uma dificuldade, sabia que tinha um toiro para pegar! A minha cabeça e o meu telefone não paravam, estavam no hospital com o meu pai, na praça no sorteio, no hotel com os forcados, e na reunião do grupo de Évora para se escolher o novo cabo! Foi um dia dos tais! No final do dia tudo correu bem e fiquei satisfeito com o resultado global.

Quando tomares os destinos do Grupo, quais vão ser os valores e os princípios que vais seguir?



Serão os valores que já existem no seio do grupo e no seio do que é ser forcado no geral. Respeito pela figura, pelo público e pelo toiro, humildade, dignidade, amizade e educação, pilares da vida e em particular da vida de um forcado.


Já tens algumas datas importantes para esta época? E projectos para o Grupo?

Temos muitos compromissos importantes, Praças como Campo Pequeno, Santarém, Nazaré, Évora, datas em praças importantes de Espanha, será uma temporada à imagem e semelhança do que tem sido a nossa conduta até à data.


Podes partilhar connosco um dos teus melhores momentos e um menos bom, como Forcado?


O melhor momento ainda está para vir, nunca tive dias perfeitos, tive algumas tardes boas, realço a primeira pega em Évora, no São Pedro de 1999, na homenagem ao meu pai; a pega ao toiro de Pablo Romero, na feira de Maio em Montemor-o-Novo; a reinauguração da Arena de Évora, a primeira pega da nova arena; a pega no México. Menos bons também tive alguns, são parte integrante desta vida, recordo os três toiros que não consegui pegar até à data que mais do que ferido e magoado fisicamente fiquei sobretudo ferido na consciência e dignidade, mas o tempo, como em tudo, acabará por sarar.

O dia 28 de Junho vai ser certamente um marco importante na tua vida e na história do Grupo, qual achas que vai ser a reacção dos aficionados e a do povo Eborense?
Será um dia inesquecível, para mim sem dúvida que é um dia importante na minha vida, é um dia que vou dar mais um passo de gigante no percurso da vida pois sei que tudo irá mudar depois de desse dia, espero corresponder às expectativas e sentir-me bem física e psicologicamente para que seja uma festa e todos possamos desfrutar. Para o Grupo de Évora é o virar de uma página da sua bonita história. São 45 anos, três cabos, muitas vivências, julgo ser inclusive dos poucos grupos da actualidade e o único dos 4 mais antigos que tem quase a totalidade dos seus fundadores vivos que é um privilégio para aqueles que actualmente dele fazem parte. A reacção dos aficionados só pode ser boa, o ambiente para a corrida é tremendo, as gentes de Évora tem um carinho especial pelo seu grupo, serão com certeza muito exigentes, como aliás deverão ser mas estarão nessa noite e sempre com o seu grupo.

Uma última palavra para todos aqueles que te admiram e que em ti depositaram a confiança necessária para tu liderares os destinos dos Forcados Amadores de Évora?
A palavra só poderá ser de agradecimento pela confiança, de enaltecimento por aqueles que desta família fazem parte, de carinho por todos os seguidores. Espero estar à altura daquilo a que me comprometi e que as falhas e fracassos do Grupo de Évora correspondam aos meus erros como cabo.

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